20ª edição dos Jogos Abertos do Interior
Piracicaba  –  1955

Prof. Antonio Carlos Zinsly de Mattos

Selam / Acervo Esportivo

Período – 8 a 16 de outubro de 1955

Cidade-sede – Piracicaba

Participantes – 76 municípios de 6 estados brasileiros

Atletas – 2.644 inscritos – 2.367 participantes

A vigésima edição dos Jogos Abertos do Interior foi realizada em Piracicaba, de 8 a 16 de outubro de 1955 e teve como destaque dois fatos que ficaram na história do desporto piracicabano.

Um deles foi a inauguração do Ginásio Municipal Waldemar Blatkauskas, durante a abertura dos Jogos Abertos. Foi o segundo equipamento esportivo da cidade que, até então, contava apenas com o ginásio da ESALQ.

O outro fato marcante foi a estréia da equipe masculina de basquete do XV de Piracicaba, composta de valores como Mané Bortolotti, Paula Motta, Buck, Travaglini e ainda Wlamir e Pecente que anos mais tarde estariam entre os “monstros sagrados” do basquete brasileiro.

Foi o início da trajetória de uma equipe que foi considerada a melhor formada por Piracicaba, segundo esportistas da época e a própria imprensa brasileira, estando entre as melhores do Brasil, desde a sua formação no final de 1954 até o fim da década de 60, conquistando dois títulos paulistas – 1957/60 e  o Torneio Sul-Americano comemorativo aos 20 anos da Associação Argentina de Basquetebol, representando o Brasil em Buenos Aires, em 1957.

Poucos anos mais tarde, vieram mais reforços de peso como Waldemar Blatkauskas, Zé Carlos, Nascimento, Tozzi, Filetti, Arthur, Mindaugas, Alemão, Zé Boquinha, Zé Obinha, Zezé Petrelli, entre tantos outros que vieram vestir a camisa do XV, deixando o time ainda mais afiado, respeitado e, onde quer que fosse era cotado como um dos favoritos da competição.

Foram anos de ouro do basquete piracicabano, campeão de nove edições dos Jogos Abertos do Interior e vice-campeão em outras cinco no período de 1954 a 1968.

Também foi a época em que a cidade esteve orgulhosa por contar em seu plantel com valores que se consagraram mundialmente, caso de Wlamir, Waldemar Blatkauskas, Pecente e do técnico João Francisco Brás, assistente da seleção brasileira, campeã mundial em 1959 e 1963.

A participação do basquete masculino

Equipe do XV campeã dos Jogos Abertos de 1955.
Em cima – João Arruda, Arary, Zé Côco, Travaglini, Norberto Pellegrino, João Luis, Fued Kraide (diretor).
Embaixo – Pecente, Wlamir Marques, Paula Motta, Buck e Mané Bortolotti.

O basquete masculino dos Jogos Abertos de 1955 teve 63 equipes que inscreveram 712 atletas. Os torneios da época seguiam o sistema de eliminatória simples, classificando o vencedor de cada jogo passa para a fase seguinte, ou eliminatória dupla, onde equipe é eliminada na segunda derrota. O quinteto piracicabano realizou cinco jogos, venceu todos, marcou 330 pontos contra 184 sofridos. Os resultados foram os seguintes:

Piracicaba 61 x 21 Caçapava
Piracicaba 85 x 41 Rio Claro
Piracicaba 70 x 36 Botucatu
Piracicaba 54 x 34 Limeira
Piracicaba 60 x 52 São Carlos

O JAI/55 também foi a estréia oficial de Wlamir Marques pelo basquete de Piracicaba. Aliás, uma ótima estréia, pois foi ele o cestinha da competição com 118 pontos.

Relação dos cestinhas

Wlamir Marques (Piracicaba) – 118 pontos

Alcino Pellegrini (Botucatu) – 95 pontos

José Micheloni (Santo André) – 86 pontos

Carlos H. Becker (Sant André) – 73 pontos

Vicente Regazzo (Limeira) – 72 pontos

João Luis Oliva (Sorocaba) – 68 pontos

A equipe piracicabana foi campeã invicta e atuou com os seguintes jogadores: Antonio Travaglini, Arary Marconi, Jesus Marden dos Santos, João Ferraz de Arruda, João Luis Morais, José Carlos Ometto (Zé Obinha), José Lázaro Coelho Renzi (Zé Côco), José da Paula Motta, Manoel Bortolotti, Milton Saliba (Buck), Pedro Vicente da Fonseca (Pecente) e Wlamir Marques. O técnico foi o santista Délio Paranhos de Miranda.

Outras modalidades

Piracicaba não se inscreveu em todas as modalidades na edição que sediou, em 1955. Naquela época ainda não possuía todas as equipes devidamente constituídas e preparadas para a competição.

O basquete masculino foi o primeiro time formado pela cidade que, até então, utilizava grupos de alunos da ESALQ, grande reduto esportivo da cidade, para representá-la em outros esportes, caso do atletismo e voleibol.

A natação feminina conseguiu sua melhor colocação em todas as edições dos Jogos Abertos do Interior realizadas até 2010. Foi vice-campeã em 1955, conquistando três medalhas, uma de prata no revezamento 4x100m livre e duas de bronze, nos 200m peito e 100m mariposa (os jornais da época referiam-se ao estilo borboleta como 100 metros mariposa, termo espanhol para esse nado).

Revezamento 4x100m livre

2º lugar – 6min20seg

Maria Alice Siqueira, Myriam D’Abronzo Vargas, Carmem Likilin e Cloris Moraes

200m peito

3º lugar – Otilia Likilin – 4min8seg01

100m mariposa

3º lugar – Suzana Bullmann – 2min30seg

O atletismo masculino conquistou mais duas medalhas. Foi prata no salto triplo e bronze no salto em altura, ambas ganhas por atletas esalqueanos. Conseguiu também bons resultados no salto em extensão e nos arremessos (o termo lançamento seria utilizado anos mais tarde).

Salto triplo

2º lugar – Eloy Giacomelli – 13,61m

Salto em altura

3º lugar – Epaminondas Ferraz – 1,75m

Salto em extensão

4º lugar – Paulo Cantarelli – 6,14m

Arremesso do dardo

4º lugar – Olavo Sampaio – 42,64m

Arremesso do disco

4º lugar – Waldemar Balbo – 31,63m

6º lugar – Roberto Torres – 30,68 metros

No ciclismo apenas um quarto lugar de Virgilio Gonzáles na prova de velocidade.

Nos esportes coletivos, com exceção do basquete masculino, Piracicaba teve uma participação discreta. As nossas equipes ficaram ao longo do caminho, após uma ou duas derrotas, desclassificadas nas eliminatórias simples ou dupla, sistemas de disputa utilizados em função do número de cidades inscritas.

O tênis masculino, composto pelos jogadores Julio Marcos, Adhemar Cervelini, Gito Souza Campos e Pedro Totti, teve o melhor retrospecto e ficou na quarta colocação. Jogou quatro partidas, venceu duas e perdeu duas.

O basquete feminino sofreu duas derrotas. No voleibol, o masculino teve uma vitória e uma derrota e o feminino duas vitórias e três derrotas. No xadrez masculino, uma vitória e duas derrotas. Resultados por modalidade:

Basquete feminino

Piracicaba 19 x 33 Santa Bárbara D’Oeste

Piracicaba 17 x 34 Limeira

Tênis masculino

Piracicaba 3 x 2 Santo André

Piracicaba 4 x 1 Joinville-SC

Piracicaba 1 x 4 Bauru (semifinal)

Piracicaba 2 x 3 Poços de Caldas-MG (3º / 4º)

Vôlei masculino

Piracicaba 2 x 0 São João da Boa Vista

Piracicaba 0 x 2 Lins

Vôlei feminino

Piracicaba 1 x 2 Birigui

Piracicaba 2 x 0 Sorocaba

Piracicaba 2 x 0 Birigui

Piracicaba 1 x 2 Salto

Piracicaba 0 x 2 Uberaba-MG

Xadrez masculino

Piracicaba 0 x 3 Sorocaba

Piracicaba 3 x 0 Pederneiras

Piracicaba 1 x 2 Rio Claro

A competição

Os Jogos Abertos de 1955 transcorreram sob clima tranqüilo, porém as disputas foram bastante acirradas entre Campinas, Rio Claro e Sorocaba, na “briga” pelo título de campeã geral.

Piracicaba, por sua vez, ciente de que a força esportiva que possuíam suas equipes, não seria suficiente para colocá-la na disputa pela ponta, procurou fazer apenas uma boa participação. Porém, o título do basquete masculino, o vice-campeonato da natação feminina e o quarto lugar do tênis masculino, lhe valeram a quarta colocação geral.

A cidade também prezou pela boa organização do evento, procurando bem recepcionar os municípios participantes, atendendo as necessidades de alojamento e de equipamentos esportivos exigidos pelo comitê dirigente.

Para tanto, contou com experiência Horacio Geraldo Barioni, o famoso Baby Barioni, criador dos Jogos Abertos do Interior, como reforço na comissão organizadora.

Dovilio Ometto, Arnaldo Ricciardi, Celso Silveira Mello e Baby Barioni

A foto acima, do arquivo de Roberto Filetti, mostra um momento histórico durante os Jogos de 1955: o reencontro de pioneiros. Baby Barioni, criador dos JAI, Dovilio Ometto e Celso Silveira Mello, atletas de Piracicaba, e Arnaldo Ricciardi, inscrito pela cidade de Olímpia, jogaram o 1º torneio dos Jogos Abertos do Interior. Portanto, integram o grupo dos fundadores da competição por terem participado da primeira edição, realizada em Monte Alto, em 1936.

Municípios participantes

Estiveram presentes na Jogos Abertos de 1955, em Piracicaba, 76 municípios, sendo 66 paulistas e 10 de outras unidades da federação.

Pode parecer estranho que cidades de outros estados brasileiros tenham participado dos Jogos Abertos do Interior, uma competição voltada para os municípios paulistas. Porém, isso foi possível por não haver nenhum impedimento previsto nos regulamentos da competição na época.

Portanto, nas edições realizadas desde a sua criação, em 1936, até os Jogos de 1969, em Araraquara, as “estrangeiras”, como eram carinhosamente chamadas, competiram na Olimpíada Caipira dos paulistas.

No final de 1969, o governo paulista reformulou as regiões esportivas existentes e baixou decreto tornando os Jogos Regionais classificatórios para os Jogos Abertos do Interior, competição que passou a ser extensiva apenas aos municípios paulistas, conforme decreto que entrou em vigor em 1970.

municípios paulistas – Altinópolis, Americana, Araçatuba, Araraquara, Araras, Barretos, Bauru, Birigui, Botucatu, Bragança Paulista, Brotas, Caçapava, Campinas, Capivari, Catanduva, Cravinhos, Descalvado, Fernandópolis, Franca, Franco da Rocha, Guaratinguetá, Guarujá, Guarulhos, Igarapava, Itapetininga, Itatiba, Jaboticabal, Jacareí, Jaú, Jundiaí, Leme, Limeira, Lins, Lucélia, Mirassol, Mococa, Mogi Mirim, Novo Horizonte, Olímpia, Osvaldo Cruz, Pederneiras, Pindamonhangaba, Piquete, Pirassununga, Ribeirão Pires, Ribeirão Preto, Rio Claro, Salto, Santa Bárbara D’Oeste, Santa Rita do Passa Quatro, Santo André, São Bernardo, São Carlos, São João da Boa Vista, São Joaquim da Barra, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Pedro, São Vicente, Sertãozinho, Sorocaba, Tambaú, Tietê, Tupã e Valinhos, além de Piracicaba, cidade-sede.

municípios de outros estados – Araguari-MG, Campo Grande-MS, Joinville-SC, Londrina-PR, Maringá-PR, Poços de Caldas-MG, Ponta Grossa-PR, São João Del Rey-MG, Uberaba-MG e Volta Redonda-RJ.

Quadro de Honra

nota – o torneio de saltos ornamentais feminino não foi realizado por não ter o numero mínimo de cidades inscritas, exigido pelo regulamento geral.

Classificação geral

1º) Campinas – 48 pontos

2º) Rio Claro – 46 pontos

3º) Sorocaba – 39 pontos

4º) Piracicaba – 24 pontos

5º) Jundiaí – 23 pontos

6º) Araraquara – 22 pontos

7º) Bauru e Salto – 21 pontos
9º) São Carlos – 21 pontos

10º) Santo André – 17 pontos
11º) Ribeirão Preto – 16,5 pontos
12º) Mogi Mirim – 15 pontos

13º) São João da Boa Vista – 13 pontos

14º) São Vicente – 11 pontos
15º) Londrina-PR – 11 pontos

16º) São José do Rio Preto – 9,5 pontos

17º) Araçatuba, Caçapava, Jaboticabal – 8 pontos
20º) Limeira  – 8 pontos

21º) Uberaba-MG – 6 pontos

22º) Campo Grande-MS, Jaú, Lins e Poços de Caldas-MG – 5 pontos

26º) Altinópolis e Birigui – 3 pontos
28º) Pirassununga – 3 pontos

29º) Osvaldo Cruz e São João Del Rey-MG – 2 pontos
31º) Joinville-SC – 2 pontos

fotos – Acervo Zinsly de Mattos